O sonho de cantar não tem idade
Reality comprova a busca do sucesso entre artistas seniores
A estreia do reality show The Voice +, da TV Globo, abriu para o conhecimento do grande público, o talento de cantores que hoje se encontram na melhor idade, provando que o sonho para a busca do sucesso e o prazer de cantar não tem cronologia.
O programa, que já vale pelas histórias emocionantes, mostra artistas que por algum motivo se distanciaram da carreira profissional e que hoje almejam o estrelato.
Se o dito popular afirma que quem canta seus males espanta, talvez a busca pelo aperfeiçoamento musical não esteja totalmente ligada ao sucesso, mas também a satisfação pessoal.
Para o preparador vocal e de performance Wilson Gava, que tem entre seus alunos pessoas acima dos 50 anos, são diversos perfis que o procuram para aprimorar o canto. “Tenho alunos que fazem aulas comigo para ressignificar seus sonhos, suas vidas, para se divertir com a família e amigos, para se apresentar em karaokês, para superarem timidez ou mesmo melhorar a forma de se comunicar em seus trabalhos, como também aqueles que buscam se profissionalizar e ter uma carreira sólida como cantores”.
No quesito ressignificação, Ana Magalha, 54 anos, cantora autodidata que tem como profissão a venda de espetinhos, se viu em uma depressão aos 34 anos. Aconselhada por uma médica, foi se dedicar a algo que gostasse, não apenas ao trabalho e pensou na música. “A música me libertou, até me descobrir bonita, eu me descobri. Cantar é o meu hobby predileto”, informa Magalha. Antes da pandemia a cantora fazia shows esporádicos em eventos, se divertia em karaokês e também participava como jurada em campeonatos de cantores amadores.
Aluno do Wilson Gava desde 1998, Guime, de 78 anos, conta que não tem intenção de ganhar dinheiro cantando, mas que adora fazer apresentações para amigos, chegando a reunir em um show 250 pessoas, no extinto Tom Jazz. Ele, que canta desde criança, chegou a introduzir um karaokê na empresa em que se aposentou, em 1970. “Na época reunimos colegas de trabalho que gostavam de cantar e nos divertíamos muito”, conta Guime. Experiente em programas de televisão, já participou do Programa Raul Gil, SBT, do Canta Comigo, TV Record, chegando na semifinal, e por último na seleção do The Voice Mais. “A música significa o ar que respiro, não é terapia, é necessidade. Outra felicidade que a música me traz é fazer amizade com pessoas de todas as idades, raças e religiões”, finaliza o cantor. Outra curiosidade sobre Guime é que ele aprendeu a trabalhar os próprios play backs, que faz questão de levar em um pen-drive nos karaokês que frequenta, acertando o tom das músicas para sua voz.
Outro aluno do Gava, Adriano De Bittencourt, funcionário público do Conselho Regional de Engenharia, do Rio Grande Sul, de 56 anos, cantava desde criança, chegando a trabalhar na noite durante 5 anos. Quando casou, deixou a cantoria de lado, porém sentia muita falta. Com a chegada da pandemia, essa necessidade se tornou vital para sua saúde emocional. Encontrou o professor pela internet e hoje faz aulas online. Ele afirma que cantar toca a sua alma, é uma necessidade para o seu bem-estar. “Quero ter uma carreira profissional, não pelo fato de fazer sucesso e sim para tocar o coração das pessoas”, explica De Bittencourt. Hoje, com as aulas, ele ganhou confiança e compartilha seus vídeos de apresentação que faz para o professor, em suas redes sociais, chegando a ganhar novos seguidores.
Está é só uma amostra de um pequeno universo, mas podemos imaginar quantas Anas Magalha, Guimes e Adrianos existem por este mundo afora, que usam a música como instrumento de felicidade, quando muitos imaginavam que a partir de uma certa idade os sonhos desaparecem.
Wilson Gava, além de ter cursado Music Business, na Berklee College of Music (Boston EUA), é multi-instrumentista, tem especialização em Voz Profissional (PUCSP) e mestrado em Fonoaudiologia (PUCSP) e conta no currículo com trabalhos com importantes nomes da música brasileira como Claudia Leite, Família Lima, Luiza Possi, Paula Lima, Ronnie Von, Roupa Nova, Sandy & Junior e Simoninha, além de destaques da nova MPB como o duo Mar Aberto. Na Rede Globo, no Programa Domingão do Faustão, ele foi preparador vocal e artístico. Atualmente, além de seu curso de canto, dirige a sua própria gravadora.
Por Sandra Campello – Máxima
Edição : Leanderson Amorim 0 – Nordestinos Paulistanos